Insights de liderança, networking de elite e inovações disruptivas
Durante o Compras Summit 2024, um dos principais eventos do setor, realizado pela CICLO Academy, líderes e especialistas destacaram a interseção crucial entre sustentabilidade e a gestão de fornecedores. O evento destacou como a inovação está se tornando um catalisador essencial para transformar não apenas a eficiência operacional, mas também para fomentar cadeias de suprimentos sustentáveis. Cada vez mais, empresas estão adotando tecnologias avançadas e metodologias inovadoras para além da melhoria de processos, também integrando práticas sustentáveis como parte de suas estratégias de compras.
O benefício para essa prática está em mitigar riscos e abrir novas oportunidades de negócios em um mercado cada vez mais consciente e exigente. Segundo dados do Institute of Business Value (IBV), uma pesquisa global revelou que mais da metade dos consumidores (54%) estão dispostos a pagar mais por produtos de marcas responsáveis. Isso evidencia um diferencial competitivo e também posiciona a sustentabilidade como um imperativo ético e de mercado para as empresas, alinhando-se aos princípios ESG (Environmental, Social and Governance).
Sustentabilidade e gestão de fornecedores
Logística Reversa na Kovi: eficiência e sustentabilidade
A Kovi, startup brasileira líder em tecnologia para mobilidade na América Latina, se destaca não apenas pela inovação em soluções de transporte, mas também por uma abordagem pioneira na logística reversa, fundamental para a sustentabilidade e eficiência operacional.
Gabriel Adler, diretor de Procurement e Sourcing da empresa, conta que o modelo de negócio da Kovi gera um fluxo contínuo de ativos (carros) que precisam ser monitorados, mantidos e renovados. Para isso, a empresa desenvolveu um sistema de coleta de veículos ao término dos contratos de locação.
Com a tecnologia para coordenar o retorno organizado dos veículos sem interromper a operação diária, a Kovi reduziu os custos logísticos ao estabelecer pontos de coleta estratégicos. Após a devolução, são feitas inspeções detalhadas e manutenções preventivas, incluindo reparos necessários. Com essa mudança na gestão, a empresa reforçou seu compromisso com a sustentabilidade por meio da logística reversa de peças e materiais, estabelecendo parcerias com fabricantes e recicladores para reutilizar componentes automotivos descartados – reduzindo significativamente o impacto ambiental das operações.
“Isso inclui a recuperação de metais e plásticos, que são reintegrados ou vendidos no mercado secundário, gerando novas fontes de receita”, ressaltou Adler. “Com a logística reversa minimizamos esse impacto associado ao descarte inadequado de veículos e melhoramos a eficiência operacional, reduzindo custos de transporte e maximizando o tempo de vida útil de cada ativo”, completa.
Transformar operações em motores de sustentabilidade
No evento, Henrique Paes, diretor de compras da Votorantim, compartilhou como a empresa tem avançado significativamente em compras sustentáveis. Um dos principais focos é reduzir a pegada ambiental, especialmente no setor de cimento, que é responsável por uma parcela significativa das emissões globais de CO2. Segundo Paes, a empresa tem implementado práticas para diminuir o uso de combustíveis fósseis em seus processos de produção e explorado alternativas que reduzem a quantidade de clínquer necessário na fabricação do cimento – essencial para minimizar as emissões.
Charles-Henri Lignet, diretor de compras da Royal Canin, destacou estratégias sustentáveis como a colaboração com fornecedores para reduzir as pegadas de carbono e o desenvolvimento de novas matérias-primas sustentáveis. Isso não apenas agrega valor aos produtos finais, como expande mercados e reduz a dependência de matérias-primas específicas.
Além da redução de emissões, a Votorantim enfatizou a inclusão na seleção de fornecedores, buscando diversificar a cadeia com mais pequenas empresas locais e lideradas por mulheres. “Essa diversificação fortalece as comunidades locais ao gerar empregos e distribuir riqueza de forma mais equitativa, também contribuindo para a criação de um ambiente de negócios mais justo e sustentável”, ressaltou Paes.
Outro aspecto abordado pelo diretor da Votorantim é o engajamento de seus fornecedores em iniciativas sociais e ambientais por meio da “Rede Transformar” – que permite que pequenos fornecedores participem de projetos de impacto social, como melhorias habitacionais e preservação ambiental na Amazônia. “Esses esforços fortalecem as relações com os fornecedores e reforçam o compromisso da empresa com o desenvolvimento sustentável e a responsabilidade social corporativa”, ressalta.
Foco em estratégia econômica e ambiental
Durante o Compras Summit, líderes destacaram a importância de uma estratégia de sustentabilidade dentro da empresa focada na gestão de fornecedores. Julio Abrahão, diretor de compras da Vibra, falou sobre o desenvolvimento de uma plataforma customizável para selecionar e qualificar fornecedores, garantindo que apenas aqueles alinhados com os valores éticos e econômicos da empresa fossem contratados. “Esse sistema não apenas simplificou o processo de aquisição, mas também promoveu uma competição saudável entre os fornecedores, resultando em melhores propostas e contratos mais vantajosos para a Vibra”, explicou.
Parcerias estratégicas com empresas focadas em energias renováveis e iniciativas para reduzir impactos ambientais em suas operações, também estão na mira da Vibra. “É possível buscar a eficiência econômica, sem abrir mão de contribuir positivamente para a sociedade e o meio ambiente”, enfatiza.
Tiago Martinello, diretor de suprimentos do Grupo Boticário, ressaltou a integração de critérios ambientais e sociais em toda a cadeia de suprimentos. “Nosso foco é construir um futuro sustentável por meio da inovação e da colaboração eficiente com nossos milhares de fornecedores”, disse. “Ter uma rede extensa de mais de 4000 fornecedores se tornou fundamental para garantir a competitividade, a qualidade, a inovação e a sustentabilidade dos produtos”, completou.
Cristiane Oliveira, diretora de compras do Mercado Livre, enfatizou a homologação de fornecedores alinhados com critérios de sustentabilidade, fortalecendo a cadeia e promovendo um futuro mais consciente. “Ao homologar fornecedores que estão alinhados com nossos critérios de sustentabilidade, estamos fortalecendo nossa cadeia de suprimentos e contribuindo para um futuro mais consciente e responsável”, concluiu Oliveira.
Avaliar o desempenho sustentável dos fornecedores
Marcos Domingues, líder global de uma categoria estratégica na Johnson & Johnson, discutiu a interseção entre fornecedores e sustentabilidade, destacando a consolidação do portfólio de distribuidores para maximizar rentabilidade e impacto positivo nos negócios. Ele ressaltou a implementação de scorecards para avaliar o desempenho sustentável dos fornecedores. “Ao abordar os distribuidores, buscamos eficiência operacional e redução de custos, além de maximizar a rentabilidade e garantir um impacto positivo nos negócios”, explicou.
Carlo Martorano, vice-presidente global de compras e materiais da AGCO, também trouxe o exemplo da empresa dentro dessa visão e como a Gestão Global de Sustentabilidade e Inovação (GSI) não só melhorou a eficiência operacional, mas também promoveu práticas sustentáveis através de iniciativas como a dual source para fornecedores. “Nosso foco vai além da resolução de desafios de eficiência; também integramos práticas que reduzem o impacto ambiental em nossas cadeias de suprimentos”, contou. Uma das principais melhorias foi a integração e a comunicação entre as diferentes áreas da empresa, quebrando silos e promovendo colaboração.
Luiz Barberini, gerente de operações de manufatura externa da Bayer para a América Latina, reforça a importância da construção de relações duradouras com os fornecedores junto com o compartilhamento de objetivos de responsabilidade ambiental. “Esta abordagem melhora a eficiência operacional e também promove práticas sustentáveis dentro da cadeia de suprimentos mais resiliente e sustentável”.
Qual o papel da sustentabilidade na definição das agendas corporativas globais?
Os cases compartilhados no Compras Summit 2024 não apenas destacaram a necessidade urgente de adotar práticas de compras mais sustentáveis e responsáveis, mas também as oportunidades significativas que elas podem trazer para as organizações. Com uma abordagem colaborativa, ágil e orientada para a inovação, as empresas estão posicionadas para atender e, indo mais além, liderar as expectativas do mercado global em constante mudança.
As companhias têm o papel não só de moldar o futuro da indústria, mas também estabelecer novos padrões de responsabilidade corporativa e eficiência sustentável. Com esse panorama macro do evento, vale a reflexão: como as práticas sustentáveis podem continuar evoluindo para um impacto duradouro na sua cadeia de suprimentos?