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O setor de transportes vem passando por grandes transformações nos últimos anos. Com mais tecnologia e planejamento, tem sido possível otimizar o tempo de entregas e alcançar resultados inimagináveis há uma década — mudanças que, em grande parte, são impulsionadas pelo boom do e-commerce no período da pandemia da Covid-19. Mas também existem desafios a serem superados.
Neste conteúdo, vamos colocar os holofotes sobre algumas das principais tendências e obstáculos do setor para os próximos anos. Para isso, contamos com a contribuição da especialista Rejane Vasco, que tem 33 anos de experiência no setor de transporte de cargas e logística, atuando como diretora operacional, de projetos de tecnologias aplicadas e inovação. Possui doutorado na área de pesquisa operacional e especialização na área de inteligência artificial.
O que podemos esperar para 2025 e os próximos anos no setor de transportes?
1. Movimento de melhorias de infraestrutura rodoviária
Melhorar a infraestrutura rodoviária do Brasil é uma das principais iniciativas para qualificar o setor de transportes — e surge como uma tendência importante. Dois exemplos: em fevereiro de 2024, foram anunciados investimentos de R$ 4,7 bilhões para obras estruturantes em todo o país por parte do Governo Federal. O Governo de São Paulo também sinalizou investimentos na área, na ordem de R$ 5 bilhões, com o objetivo de melhorar a infraestrutura logística do estado.
Essas melhorias, acompanhadas da implementação de planos diretores (leis que determinam regras para o planejamento urbano) que incluam o uso estratégico de portos para escoamento de mercadorias (incluindo a safra de cada temporada), têm o potencial de otimizar a logística no país.
2. Carros autônomos e drones
O uso de veículos autônomos na logística já é uma realidade — pelo menos para algumas empresas dos EUA. Um estudo realizado na Universidade de Kansas identificou que uma das principais vantagens deste método de entrega de mercadorias está relacionada à dificuldade de encontrar vagas de estacionamento nas cidades.
O entregador é levado pelo veículo autônomo até uma determinada região onde precisa fazer algumas entregas. O profissional desce do veículo e este retorna após algum tempo para pegá-lo, enquanto ele faz as entregas a pé. Assim, ganha-se tempo e produtividade, já que não é necessário ficar procurando vagas para estacionar — o carro circula pelas ruas enquanto as entregas são feitas.
3. Escassez de motoristas
Se a situação das entregas nas cidades parece bem encaminhada com os veículos autônomos, o mesmo não se pode dizer das estradas. Há uma grande preocupação a respeito da escassez de motoristas nos próximos anos, com uma forte tendência de redução drástica de profissionais dispostos a atuar na área.
Um estudo realizado em 2023 pela International Road Transport Union (IRU) identificou que mais de 3 milhões de vagas de motoristas de caminhão estão vagas (o que representa 7% do total de vagas), em 36 países estudados.
Entre as principais soluções apontadas estão melhorias nos salários e nas condições de trabalho, como veículos de melhor qualidade, acesso a programas de saúde física e mental, redução de custos para obter a habilitação e permissão para trabalhar na área e, também, programas de treinamento e atualização. A criação de campanhas atrativas para jovens motoristas (de ambos os sexos) também costuma ser apontada como uma tarefa necessária para modificar o cenário de escassez de motoristas.
4. Personalização e last mile
“A alta personalização, ou seja, o efeito de personalizar, já é uma realidade e irá se consolidar cada vez mais nos próximos anos”, acredita Rejane. Essa tendência é especialmente importante porque promove a necessidade de mudanças estruturais significativas na logística e nos transportes.
Os clientes, sejam eles pessoas físicas (B2C) ou empresas (B2B), atualmente têm à sua disposição uma grande quantidade de canais de interação com as marcas. Mesmo na relação entre empresas essas customizações estão presentes. “As modalidades de transportes no last mile se diversificaram em vários tipos de serviços, em curtíssimo espaço de tempo”, complementa a especialista.
5. SLAs e flexibilidade de contratos
Com o aumento da personalização, surge mais uma tendência: exigências ainda maiores na manutenção da regularidade com o cumprimento dos SLAs (Service Level Agreement – em português, Acordo de Nível de Serviço) em patamares cada vez mais altos. Para Rejane, esse cenário poderá levar a uma maior intensificação de práticas de contratos que considerem fatores de “ônus e bônus” por parte do embarcador.
O desafio será criar uma adequação mais dinâmica, flexível e transparente sobre a precificação, especialmente para o transportador que tem absorvido as ociosidades nas ocupações de seus recursos, tempos excessivos ociosos em esperas e, ainda, lidado com as sazonalidades mensais e anuais.
Ou seja, poderá haver mudanças no modelo de contratos atuais, com por exemplo reajustes baseado em métricas sazonais, ou seja, mais dinâmicos. “Inclusive, acredito que a prática de ‘planilha aberta’ poderá se intensificar devido às tecnologias de predição disponíveis”, afirma Rejane.
6. Parcerias regionais e capacitação
Nas malhas logísticas, é comum a contratação de empresas regionais de menor porte, que realizam as atividades de last mile — seja na modalidade LTL (Carga Fracionada) ou e-commerce. Em geral, essas empresas oferecem serviços de boa qualidade — inclusive porque são administradas de perto pelos proprietários, que acompanham as atividades no dia a dia e, muitas vezes, até mesmo fazem uma parte das entregas por conta própria.
Essas empresas, no entanto, precisam de recursos adequados para acompanharem as novidades e se manterem relevantes no mercado. “A necessidade de recursos para investimentos em novas tecnologias é um ponto de destaque”, acredita Rejane. “Tecnologias para além de app de entrega, sistemas legados com baixa conectividade, pouco acesso a crédito, enfim. A participação desses ‘agentes’ é bastante expressiva atualmente, e deve se manter devido à capilaridade do last mile em todo o Brasil”, reforça.
A especialista sugere, ainda, a criação de espaços de diálogo, para que as empresas de maior porte proporcionem conhecimentos técnicos a esses fornecedores estratégicos — desde a aplicação de ferramentas para melhoria contínua em processos até benchmarking de boas práticas e informações a respeito das tendências tecnológicas e de gestão.
7. Otimização de malhas logísticas
A busca da otimização de malhas logísticas é mais uma importante tendência no setor de transportes. Foco principalmente em reduzir custos no reposicionamento de veículos vazios, e frequências ajustadas às regularidades desejadas.
Para Rejane, é preciso considerar que temos um país de grande extensão territorial, com desbalanceamentos de demandas, e carência na infraestrutura rodoviária. Projetos de análise de malhas têm se intensificado nos últimos três anos, com foco em localização de facilities (hubs) e sinergia entre malhas de outros negócios — até mesmo, entre empresas.
“Na minha opinião, a indústria tenderá a cada vez mais ‘primarizar’ a centralização do controle total da informação logística ao longo da cadeia, por meio de conexões tecnológicas em tempo real com as áreas de tráfego ou de torre de controle de fornecedores da cadeia logística”, entende Rejane.
Esse cenário tende a se intensificar com os investimentos em tecnologias de inteligência artificial (IA), que visam aprimorar as predições e fornecer informações aos clientes. Com o uso de diversos canais de comunicação, a IA permitirá uma resposta mais rápida, uma personalização mais precisa e uma integração eficaz de recursos como Processamento de Linguagem Natural (PNL), imagens e vídeos.
8. Tecnologia
Quando se fala no uso de tecnologia para o setor de transportes, empresas têm apresentado cases interessantes de sistemas de inteligência artificial para processos específicos. “A IA será requisito nos próximos anos. O uso dessa tecnologia contribui com melhores planejamentos, processos mais eficientes e velocidade nas tratativas de ocorrências”, pondera Rejane.
Além disso, o uso de ferramentas de IA traz efeitos positivos aos compromissos ligados à gestão ESG (Environmental, Social, and Governance).
Confira alguns pontos vitais para o sucesso de projetos de IA, segundo Rejane:
- Investimentos em projetos com uso de IA precisam estar no planejamento estratégico das organizações. Empresas de menor porte podem explorar o universo de startups com soluções de qualidade por um custo mais acessível;
- Alinhamento com a cultura da empresa;
- Entendimento real da aplicação, do investimento e do grau de priorização dentro da empresa. A governança deve ser clara e objetiva;
- Preparação dos dados — eles devem ser qualificados e organizados de maneira sistêmica, com as devidas proteções cabíveis ao momento atual;
- Montagem de equipes multidisciplinares que participam ativamente dos projetos, com avaliações criteriosas;
- Boa condução da gestão da mudança e do desenvolvimento de pessoas no momento da implantação. A equipe deve ser capacitada tecnicamente.
9. ESG no transporte
A especialista estima que, em um período entre 3 e 5 anos, tecnologias de IoT (Internet das Coisas) e blockchain também ganharão mais espaço no setor.
Sabemos que o setor de transportes envolve muito mais do que a entrega de mercadorias. Uma logística bem planejada, com o uso de tecnologias robustas e adequadas para o setor, é decisiva na busca por mais eficiência operacional.
Por isso, fica aqui o nosso convite: participe da Conferência LogisCarga de 2024 e reflita sobre a importância da colaboração entre transportadoras, embarcadores e fornecedores de tecnologia para enfrentar os desafios que o setor apresenta.
Clique aqui para se inscrever na 15ª Conferência LogisCarga!
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