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Como a CSN transformou a logística reversa em uma unidade de negócios

autor

Nuno Saramago

01 out 2024
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Ativo 9-8
08 e 09 de Abril de 2025

Insights de liderança, networking de elite e inovações disruptivas

Em um cenário corporativo que exige cada vez mais das empresas a aderência à agenda ESG, a logística reversa surge como um dos principais pilares de sustentabilidade nos quais as organizações podem basear sua atuação.

É por meio desta prática que são planejados e executados os fluxos de materiais, componentes e diversos resíduos que, em princípio, não têm mais utilidade para a organização. O que é lixo para uns, pode ser algo bastante valioso para players de outros setores, como as empresas recicladoras, por exemplo.

Nos últimos anos, organizações (especialmente do setor de tecnologia) têm investido na criação de negócios baseados na logística reversa. E, em alguns casos, essas novas empresas já vêm rendendo dividendos. O PayPal, por exemplo, negociou sua empresa de logística reversa Happy Returns com a gigante do setor de entregas UPS — os valores não foram divulgados.

Mais do que o valor financeiro, porém, é importante levar em conta também o impacto ambiental do descarte de resíduos no meio ambiente. Reaproveitar materiais ajuda a reduzir o consumo de recursos como energia elétrica e a aumentar a vida útil de produtos, proporcionando mais sustentabilidade econômica para a sociedade como um todo.

Entre outros benefícios destacam-se a melhora da imagem das empresas que praticam a logística reversa e um aumento da eficiência operacional a partir de práticas inovadoras.

CSN: como o grupo mudou sua gestão de resíduos e alcançou resultados milionários com logística reversa

A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) é considerada um dos grupos siderúrgicos integrados mais eficientes do mundo. A multinacional brasileira atua em cinco setores principais: siderurgia, mineração, logística, cimento e energia.

Entre seus diversos negócios, a CSN possui uma usina siderúrgica integrada, cinco unidades industriais, minas de minério de ferro, calcário, dolomita e estanho. A empresa ainda conta com uma forte distribuidora de aços planos, fábrica de embalagem metálica, terminais portuários, participações em ferrovias e quatro usinas hidrelétricas.

Não é difícil de imaginar que todas essas atividades geram grandes volumes de resíduos, os quais precisam ser manejados da forma correta, seguindo princípios de sustentabilidade de nível internacional. O interessante é que a CSN, além de olhar para essa questão, ainda foi além: transformou a logística reversa em uma unidade de negócio. Esse foi o case apresentado por Nuno Saramago, Diretor Executivo do Grupo CSN, no Pit Stop Supply Chain 2024: “Logística reversa como unidade de negócio”.

Durante a apresentação, Saramago explicou que a empresa passou a investir na logística reversa há mais de duas décadas. Em 2003, a CSN (mais especificamente a unidade localizada em Volta Redonda/RJ) possuía um local onde todo o resíduo gerado pela empresa se concentrava, ainda muito distante das necessidades reais da empresa — sem estrutura adequada e controle de entrada e saída de materiais.

Após a realização de uma auditoria ambiental, adequações foram realizadas, o que incluiu um movimento para controles internos e rastreabilidade dos materiais no sistema oficial da empresa.

Com essa reestruturação de processos, novas tecnologias passaram a ser implantadas. Entre elas:

  • Trituradores de lâmpadas (papa lâmpadas);
  • Descascadores de cabo elétrico;
  • Picotadeiras de papel de escritório;
  • Picadores de alumínio, entre outras novidades que passaram a ser tornar rotineiras ao longo dos anos.

Resultados da CSN na logística reversa: redução de 60% no material descartado e retorno milionário

O primeiro local a consolidar essa nova forma de trabalhar foi a CSN – UPV, localizada em Volta Redonda. “Além de manter os nossos resíduos em locais adequados, reduzimos em 60% o envio de material para aterro”, conta Saramago.

Atualmente, o setor de logística reversa da empresa traz um retorno financeiro de R$ 97 milhões — valor equivalente a 55.452 toneladas de materiais vendidos. Na prática, isso significa que os materiais deixaram de ir para aterros e voltaram como matéria-prima para empresas recicladoras.

Por exemplo: todo o papelão gerado na empresa era descartado em aterros industriais. Depois da implantação da logística reversa, essa realidade mudou. O material passou a ser empacotado e vendido para empresas recicladoras.

Ao longo do tempo, a logística reversa foi implantada em todas as unidades do grupo CSN e, hoje, esse processo ocorre em 25 unidades. Sempre que uma nova empresa passa a integrar o grupo, um time de especialistas vai até a unidade e realiza um diagnóstico para implantação da logística reversa.

Circula+: plataforma que traz mais transparência na gestão de resíduos

A partir da reestruturação da área de Logística Reversa e Vendas Especiais da CSN, o grupo identificou uma oportunidade de receita não explorada no mercado. Em 2022, a empresa criou sua primeira spin-off: o Circula+.

“Transformamos a maneira como as empresas lidam com seus resíduos, unindo experiência e tecnologia em uma plataforma de concorrências digitais, a fim de gerar maior valorização, liquidez e transparência no processo de venda”, explica Saramago.

Como funciona o Circula+? A plataforma conecta indústrias com os melhores compradores para seus resíduos, sucatas, ativos e inservíveis por meio de um marketplace online, vendas consultivas ou também com a possibilidade de executar concorrências online para a necessidade do cliente.

“Realizamos a análise da base para identificarmos oportunidades de venda, visita in loco, além de termos uma equipe dedicada para prospecção e aquecimento do mercado comprador”, detalha o gestor.

Todas as vendas são divulgadas em uma página pública e, por meio de um sistema próprio, é possível realizar toda a rastreabilidade do processo.

Todas as empresas que geram resíduos podem investir em logística reversa

Desenvolver produtos de qualidade e alcançar sucesso junto ao público é o objetivo de qualquer empresa, mas não se pode deixar de lado o impacto que a geração de resíduos provoca na sociedade. Como vimos no exemplo da CSN, investir na gestão de resíduos pode, até mesmo, proporcionar a criação de novos negócios.

Qualquer empresa que tenha na geração de resíduos uma dor a ser solucionada pode — e deve — fazer sua parte. Desenvolver programas que potencializem a geração de resíduos é um passo importante: é essencial fazer a destinação adequada desse material e ter a capacidade de reaproveitá-lo — ainda que com o apoio de terceiros.

Pensar sobre a gestão de resíduos também pode ajudar as empresas a diminuírem sua geração na origem. Assim, mais do que reutilizar materiais, o foco pode ser direcionado também para a redução de desperdícios.

A partir daí, uma verdadeira cultura organizacional que reflita a respeito da geração e reaproveitamento de resíduos pode surgir, o que fará toda a diferença no sucesso de iniciativas de gestão do lixo dentro das organizações.

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